opinião

OPINIÃO: Humberto, assombrando por aí


A vida, nesse aspecto, é justa, pois, à medida em que nos impõe perdas, amortece o impacto delas, com os calos que faz crescer em nossa alma com a passagem do tempo. Animicamente calejados, a dor das perdas se torna suportável. O final do ano nos levou Humberto Gabbi Zanatta, um amigo e parceiro de sonhos vários, no meu caso, de quase 50 anos, desde os árduos e saudosos (a contradição se justifica por uma dúzia de apaixonantes razões) da velha Faculdade de Direito dos Maristas, na esquina da Floriano com a Niederauer. Ele foi aluno da última turma da Faculdade particular; eu, da primeira do novo Curso de Direito da UFSM, que, nos primeiros dois anos, funcionou no mesmo prédio da primeira, sob a mesma direção e uma única secretaria.

Ali, fizemos política estudantil e jornais alternativos, entre os quais, O Chu (teve uma única edição e circulação proibida) e O Piripiri, de alongada duração, tiragens avantajadas e circulação nos meios acadêmicos, inclusive fora de nossa cidade, sempre com a direção entusiasmada de outro saudoso amigo, Augusto Sotero Vinadé. Fiz essa longa introdução para bem caracterizar a relação afetuosa e de admiração que sempre tive com Humberto, o impacto que sua morte provocou em mim e, por óbvio, as razões desta crônica, que se pretende mais que de homenagem, de agradecimento ao amigo precocemente partido.

Sobre Zanatta, homem múltiplo de permanente sorriso afável, muito já se disse e muito há por dizer, seja sobre o intelectual brilhante e inquieto, o político comprometido com os ideais de progresso e transformação da realidade do Brasil e da América do Sul, seja sobre o poeta inovador, o letrista inspirado, o prosador criativo; seja, ainda, sobre o professor ou o profissional de variadas atividades; seja, por fim, sobre o homem cuja extraordinária memória fará enorme falta na recuperação de episódios da história de nossa cidade e da vida cotidiana das famílias da região. Quero, humildemente, agradecer ao homem Humberto Gabbi Zanatta. O homem generoso, capaz de dialogar com as diferenças, de estimulá-las e respeitá-las, capaz de transitar entre as discussões sobre o sagrado e o profano sem ferir nenhuma suscetibilidade, sem desagradar a ninguém. Quero agradecer ao Humberto Zanatta humanista, pacifista, agregador.

Eu costumava brincar com ele dizendo que, na rodoviária de Taquaruçu do Sul, há um grande painel em que se lê a frase: "Bem-vindo à terra de Humberto Gabbi Zanatta". Hoje, fico pensando que tal frase deveria ornar todas as entradas de todas as cidades do Rio Grande do Sul, do Brasil e da América. Todas foram "a terra" do pensador que, malgrado as vicissitudes da senda complicada que é a vida, partiu sem se apartar do sorriso e do sonho de um mundo mais justo e mais decente. Hoje ou amanhã, vencida a transição recém feita, Humberto, mais um poeta amigo que se encantou, andará - e uso aqui expressões dele - assombrando (no melhor sentido de causar espanto, de maravilhar) as plagas celestes, onde todos, "marrecos" ou não, ce

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

OPINIÃO: A data que mudou o rumo do Brasil Anterior

OPINIÃO: A data que mudou o rumo do Brasil

OPINIÃO: Em nome da lei e da paz doméstica, eu vos declaro divorciados... Próximo

OPINIÃO: Em nome da lei e da paz doméstica, eu vos declaro divorciados...

Colunistas do Impresso